Jovens estão cada vez menos “religiosos”, indica pesquisa
Mundo Cristão
Publicado em 21/03/2018

Uma pesquisa realizada por duas das mais importantes universidades cristãs da Europa foi divulgada nesta quarta-feira (21), indicando que os jovens entre 16 e 29 anos já não se identificam com nenhuma religião. A maioria admite que não frequenta regularmente a igreja, nem tem o hábito de fazer orações.

O relatório “Os jovens adultos europeus e a religião”, foi produzido pelo Centro para a Religião e Sociedade, parceria da Universidade de St. Mary, do Reino Unido, com o Instituto Católico de Paris, da França.

Liderado pelo professor de teologia da Universidade de St. Mary Stephen Bullivant, o levantamento analisou dados recolhidos em 21 países do continente europeu e mais Israel, entre 2014 e 2016.

Uma das principais conclusões é o grande número de jovens que se declara “sem religião”. No topo da lista estão a República Checa, onde 91% dos jovens dizem não ter afiliação religiosa, seguido pela Estônia (80%) e a Suécia (75%).

Os países com maiores percentuais de jovens que se consideram religiosos são a Polônia (27%), a Lituânia (25%) e a Áustria (37%). Israel mostra viver uma realidade totalmente diferente, pois apenas 1% dos jovens não se identifica com uma religião.

Bullivant destacou que as realidades são muito díspares em países vizinhos ou com história similar. Por exemplo, os dois extremos da lista (República Checa e Estônia onde há menos religiosidade, e a Polônia e Lituânia muito mais religiosos) faziam parte do antigo bloco comunista.

O estudo mostra que, na maioria dos países europeus, a fé católica é a mais praticada entre os jovens religiosos. As exceções são a Suécia, a Dinamarca, a Finlândia e a Noruega, onde ainda prevalece a tradição protestante (evangélica). Na Alemanha e na Suíça, há uma divisão quase equitativa entre católicos e evangélicos. Rússia e Estônia prevalece o cristianismo ortodoxo e Israel, obviamente, tem a maioria judaica.

O caso mais emblemático é o do Reino Unido, país onde a Igreja Nacional é a anglicana (protestante). Já existem mais jovens dizendo-se católicos (10%) do que protestantes (7%). Os muçulmanos já são 6%, e seguem crescendo, podendo ser nos próximos anos a primeira nação onde superarão o número de evangélicos.

Frequência à Igreja e Oração

Além da identificação com a confissão religiosa, o estudo mostra a frequência da prática religiosa. Os mais assíduos aos templos são os jovens poloneses (39%), israelenses (25%) e portugueses (20%), que dizem participar dos serviços religiosos pelo menos uma vez por semana.

Na República Tcheca, 70% disseram que nunca vão à igreja ou a qualquer outro local de culto, e 80% disseram que nunca oram. No Reino Unido, França, Bélgica, Espanha e Holanda, entre 56% e 60% disseram que nunca vão à igreja, e 64%, em média, disseram que nunca fazem orações.

Conforme Bullivant, muitos jovens europeus “são batizados e nunca mais voltam a entrar em  uma igreja. As identidades religiosas culturais não estão mais sendo transmitidas de pais para filhos”.

A imigração também vem influenciando esse quadro. “Um em cada cinco católicos no Reino Unido não nasceu lá e sabemos que a taxa de natalidade muçulmana é maior que a da população em geral e suas taxas de retenção religiosas muito mais altas”, destaca o estudioso.

“O novo padrão do europeu dessa geração é ‘sem religião’, e os poucos que são religiosos veem a si mesmos como quem nada contra a maré”, disse Bullivant. “Em 20 ou 30 anos, as igrejas tradicionais deverão ser menores, mas as poucas pessoas que restam serão altamente comprometidas”, acredita.

Desilusão seria com as instituições, não com a fé

Segundo o jornal Observador, de Portugal, a avaliação da Igreja Católica no continente é que os jovens “não deixaram somente de se identificar com a religião, mas sim com as instituições”.

O porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, padre Manuel Barbosa, acredita que isso também pode ser observado em estudos semelhantes, que demonstram uma queda na confiança na imprensa e nos partidos políticos.

“Sabemos que a confiança nas instituições vai sofrendo alterações à medida que a mentalidade sociocultural vai se reconfigurando, veja a confiança depositada no sistema educativo, na imprensa, no sistema judicial, etc., onde os jovens não se reveem, à imagem do passado”, avalia o sacerdote.

Barbosa destaca ainda que “é interessante analisar que a ligação religiosa não passa exclusivamente pela marcação de um lugar nas igrejas, já que os jovens continuam a dizer, sem medo, que rezam. Deus não se desvaneceu das vidas dos mais jovens, que concebem o sobrenatural como a presença de um Deus pessoal e próximo, que lhes dá segurança e vida”. Com informações The Guardian e Observador

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